A vida massacrante das cidades faz o homem sonhar com reinos idílicos, onde poderia ter descanso e estar rodeado de magia, ar puro, árvores e animais falantes. Mas, embora pareça tentador mandar tudo para o alto e se mudar, uma análise mais atenta pode mostrar que essa idéia não é das melhores – e o Puxa!, hoje, veio destruir todos os seus sonhos de fugere urbem.
#6 Reino das águas claras
Onde fica: no fundo do ribeirão, pertinho do Sítio do Pica-Pau Amarelo (também existe um parque com o mesmo nome, em Pindamonhagaba/SP).
Parece uma boa idéia…é um lugar encantador no fundo do rio, governado pelo Príncipe Escamado, onde você nadará em águas cristalinas ao lado de peixinhos e conhecerá criaturas mágicas, e isso tudo sem usar nenhum tóxico.
Mas é uma idéia terrível porque no Reino das Águas Claras vive o Doutor Caramujo, que vende umas pílulas capazes de fazer qualquer objeto começa a falar: a Emília, por exemplo, tomou uma dessas no Reinações de Narizinho e só fechou a matraca 13 anos depois, no Doze Trabalhos de Hércules. Dizem que o Dr. Caramujo é meio extremista e acha que todas as coisas têm que falar, então, se você marcar bobeira, quando notar, seu Ipad já estará tagarelando e menosprezando o Android no celular dos outros. Isso sem contar que o Príncipe Escamado mirou no Principe Harry e acertou no Pedro, o Escamoso.
#5 Hopi Hari
Onde fica: em Vinhedo/SP.
Parece uma boa idéia... bon bini a Hopi Hari! Um país mágico, cheio de aventura e emoção em brinquedos para toda a família, que conta até mesmo com seu próprio idioma, o hopês!
Mas é uma idéia terrível porque para morarem Hopi Hari, você precisa aprender a falar hopês, uma língua que mistura traços de vários idiomas, mas que usa vocábulos do português se alguma coisa puder dar merda no Procon. Além do mais, morarem Hopi Hari custa muito caro: não há qualquer política pública de habitação ou educação, o governo só investe em lazer e lazer, e o menor pacote de Ruffles custa 8 paus. A única coisa que você conseguirá de graça por lá é uma insolação.
#4 País das Maravilhas
Onde fica: descendo o buraco do Coelho - mas para essa viagem você vai precisar das drogas.
Parece uma boa idéia... o País das Maravilhas é um lugar onde tudo é possível: você cresce, diminui, pinta flores da cor que quiser, toma chá e, como a história já virou domínio público, pode até fazer seu próprio filme que privilegia seu ator cupincha no papel de Chapeleiro Louco.
Mas é uma idéia terrível porque como você estará muito fundo no sono ou muito doido de narcóticos, os cenários e personagens mudam o tempo todo, e quase não dá para aproveitar a paisagem. Isso sem falar que uma hora as pessoas querem seu bem, outra querem seu mal, a Rainha às vezes te convida pro criquete, depois quer que te cortem a cabeça, e as regras ficam diferentes o tempo inteiro - ou seja, morar lá é muito parecido com participar de um Big Brother que vai indo mal de audiência.
#3 Pasárgada
Onde fica: fica longe, e só o Manuel Bandeira sabe como chega.
Parece uma boa idéia... em Pasárgada, você escolhe a cama, a prostituta, brinca no pau de sebo, toma banho de mar, tem shows do Roberto Carlos e é tudo all-inclusive.
Mas é uma idéia terrível porque a gente se encanta tanto com a propaganda do Manuel Bandeira que esquece um detalhe: ele é amigo do rei. Você, até onde se saiba, não é. Pasárgada provavelmente torra os tubos para sustentar os cortesãos enquanto você, que não tem as costas quentes, vai arrumar a cama que o Bandeira escolher, passar sebo no pau para ele subir e, cedo ou tarde, acabar sendo a prostituta da vez. Conselho do Puxa: fique longe de Pasárgada se você não for amigo do rei; aliás, fique longe de qualquer lugar em que você não for amigo do rei.
#2 Magic Kingdom
Onde fica: em Orlando, na Flórida, dentro do Walt Disney World - o Mundo Mágico de Beto Carrero dos americanos.
Parece uma boa idéia... o centro do reino é o castelo da Cinderella; nas ruas, você encontrará princesas e personagens Disney dispostos a te dar um abraço e bater uma foto - tudo para você se sentir dentro de um longa de animação, mas uma animação de classe, não essas coisas da Dreamworks.
Mas é uma ideia terrível porque os habitantes de Magic Kingdom são um mais estranho que o outro: tem ratos do tamanho de pessoas, cachorros que falam e cachorros que não falam, e um pato que acha que tá tudo bem andar com a bunda de fora - então decidir com quem você vai andar pode se mostrar uma dor-de-cabeça. É o lugar mais feliz do mundo - e é só isso que há por lá: alegria. Passou mal? Tome uma dose de alegria. Quer se aposentar? Aqui tem mais alegria para você continuar trabalhando. O reino está em recessão por conta da crise européia? Vamos viver de alegria! A alegria está para o Magic Kingdom como o Aerotrem está para o Levy Fidelix.
#1 Mushroom Kingdom
Onde fica: começa no Mundo Um e termina no Mundo Oito em Super Mario Bros.
Parece uma boa idéia... o Reino dos Cogumelos é um lugar agradável, comandado pela Princesa Peach, repleto de verde e sol brilhando, com dinossaurinhos em cada esquina para você sair saltitando por aí e quantos cogumelos quiser comer - ainda que o Toad peça que você marque um horário.
Mas é uma idéia terrível porque a Princesa Peach é a pior governante da história! Vejam só o estado em que ela governa Mushroom Kingdom: o lugar está cheio de buracos letais que jamais foram tapados; há infestação de tartarugas e baratas para todos os cantos; as milícias de irmãos Martelo comandam as áreas mais pobres; as regiões de periferia, como o Mundo Seis, são tomadas por tiroteios constantes e, para piorar, plataformas construídas com dinheiro público simplesmente caem se você pisa nelas.
De fora, a gente enxerga a coisa errada: é a Peach a vilã do jogo, não o Koopa. Ela é quem sucateou o reino com sua política de cházinhos com Mario no castelo, deixando os cogumelos à mingua. O problema é que o Koopa insiste num golpe de estado, quando o caminho mais adequado seria convocar eleições gerais. Tudo bem que ele tem a maior cara de membro do Democratas, mas tá na hora do povo de Mushroom Kingdom sair do Facebook e ir a luta!!
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Vinício dos Santosé um renomado ninguém. Volta e meia é confundido com outras pessoas, as quais ele só pode pedir desculpas e desejar melhoras. É o idealizador e quem mais posta no Puxa Cachorra!, o que revela muito sobre ele, e ainda mais sobre os outros membros. Escreve também para o Coisas Crônicas e é autor do romance Explo - pedra e picaretagem.